
Nos limites da Reserva Natural do Estuário do Sado, há uma casa única. Aqui, na Comporta, onde a vista se cruza com o pinhal e com vastos campos de arrozais, as dunas infiltram-se um pouco por toda a parte. Esta é uma terra de pescadores, de praias paradisíacas, ao ritmo vagaroso do quente Alentejo.
Da fusão de duas influências, nasce um ambiente de férias, que desafia a saborear os sabores do mar, a colocar os pés na areia, a convidar a família e amigos. Com base nas tradições populares surge um espaço contemporâneo, enquadrado na paisagem, fundindo o conhecimento popular e o arquitetónico.
De um lado uma casa de pescadores, com toda a sua vivência de trabalho, em que os materiais se querem efémeros e as zonas sociais e privadas bem separadas. Por outro lado, a casa alentejana com toda a sua sobriedade, onde as chaminés se destacam e parecem chamar a atenção para uma cultura assente na gastronomia. E, a unir as duas forças, surge a inspiração na obra prima do cais palafítico. O maior da Península Ibérica e o suporte da faina do mar, que se apresenta numa precária e labiríntica rede de passadiços enterrada no lodo do sapal que se liga ao rio Sado.
É a comunhão de todos estes materiais, texturas e aromas que tornam este ambiente tão singular. Pensada em dois volumes separados, a diferentes cotas, a casa orienta-se a sudoeste, deixando o olhar repousar sobre os arrozais.A nascente e a poente surgem as estruturas de madeira, o caniço como revestimento e o colmo dos telhados. E, a norte e sul a brancura alentejana predomina. As paredes tratadas a cal, são abraçadas pelos caniços que conferem privacidade.
E, o vão aberto a norte, deixa a luminosidade invadir o espaço. É esta luz uniforme que se cruza com o feixe que surge da abertura zenital, um espaço aberto no telhado de colmo, filtrando a luz. E, quando se pousam os pés nus vindos da praia, sente-se o pavimento em microcimento que nos conta uma história e nos oferece múltiplas texturas, com o seu tom de areia, povoado por pequenas conchas.
O interior e o exterior fundem-se, deixando o meio envolvente entrar pela casa dentro. E, cá fora, deixamo-nos abraçar pelas palafitas, essas estacas de madeira irregular paisagem quotidiana dos pescadores, que formam um ambiente escultórico e que com os seus toldos nos abrigam do sol quente.
As dunas são formam-se oferecendo perspetivas diferentes e as espécies autóctones reinam. Deixamo-nos envolver pelo movimento que o espaço oferece. É a dança da vegetação e o seu ruído som sedutor, a areia que escorre, a água que se desloca pela piscina e os toldos ao vento que nos embalam ao final do dia.