
Quando as portas se abrem ouvem-se risos e sussurros divertidos. É uma imensa casa de campo onde só o acesso diz estarmos perto da cidade. Dentro e fora tudo é perfeito para que a vida seja percorrida em celebração. Norteada para a herdade que se perde no espaço, adivinham-se convívios à volta da piscina até o sol baixar. Os verdes e as madeiras que dominam o ambiente deixam no ar o cheiro a bosque e a campo.
Pelas salas, cozinha, quartos, escritório, salão de jogos e garrafeira vagueiam incontáveis detalhes contando a história de cada lugar. Pedaços artesanais inspirados em outras épocas deixam descansar as frutas colhidas no pomar. As memórias e os aromas, do tempo sem horas, estão presentes nas animadas conversas sobre as dádivas de Baco e quando o enorme armário se abre de lá sai um terroir que se reparte à volta da mesa revestida com mosaicos hidráulicos.
O jantar é de festa. Sobre a mesa, de tampo de castanheiro encerado, estão linhos, flores, pratas, cristais e à volta as cadeiras vestidas com as suas capas dizem que nada falta.
Uma brisa com aroma a pão quente e compotas sai da cozinha, os armários verde musgo com cortinas de linho escondem outros sabores e muitas receitas feitas com amor. O lanche chega à mesa de pedra de Estremoz, à espera estão bancos que vieram de árvores antigas.
Ao longe lê-se “Histórias que o avô vai contar” e há uma casa de brincar com bonecas que também ficam em silêncio para ouvir as aventuras do mais velho. As recordações feitas em bordados, pratos do oriente e bens de outras épocas têm narrativas escutadas no aconchego dos sofás, ao abrigo do crepitar da lenha.
Na Suíte principal e no “Quarto das netas” os tons são leves e naturais gerando um ambiente calmo e tranquilo. As flores e as plantas ganham vida nos herbários e no papel de parede. A relação com o exterior é emblemática e de grande importância.
As aventuras do dia são também contadas perto dos cadeeiros que em tempos foram baldes ou regadores no campo. E num recanto que mostra o jardim há tempo para pensar, ler e projetar o amanhecer, com mantas que aquecem os dias frios.
A casa é um brinde às pessoas que se amam, à família, a tudo o que já foi vivido e aos desejos por realizar. Há memórias e sentimentos, com cheiro, que atravessam livros, bordados e porcelanas que flutuam em todos os espaços.
Por vezes o bater das teclas da antiga máquina de escrever é ouvido, tal como as tacadas nas bolas de bilhar. Neste ambiente bucólico surgem com nova existência madeiras, ferros, pedras e espelhos, o antigo dá mão aos novos dias e as memórias vão continuar a ser constuidas e para sempre haverá a casa dos avós.
Fotógrafo: Pedro Ferreira
Texto: Cristina Freire